História natural da febre, Matheus Guménin Barreto
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SOBRE O LIVRO
No texto de orelha, o poeta Pedro Eiras diz:
“O que esperar de um livro que se apresenta sob o signo da febre? Decerto a medida de um excesso, uma sobra, a demasia do corpo transbordante, a arder por dentro. Certa desmesura das coisas nas próprias coisas, um desajuste todo íntimo – condição, porém, para a transformação em algo mais, em algo outro.
Assim são estes poemas de Matheus Guménin Barreto: um acerto depurado entre medida e desmedida, "eloquência e fúria", "rigor e vertigem". Por um lado, dizem-se as coisas, as próprias coisas: corpos, frutos, cidades, a mão, o esperma, os livros. Por outro, aquela precisa e irreversível avaliação em que as cidades se perdem, os frutos apodrecem, o corpo colapsa. Por isso é pouco o "sol que nos cabe", ninguém sabe "quantos azuis cabem na mão d-/ e um cristo", e, infinitamente, os espelhos "refletem/ espelhos que refletem espelhos que"…
Quando as coisas se desfazem na febre, nesse estado de excepção que as ameaça e simultaneamente as constitui, não é certo que a linguagem continue a poder dizê-las. Ao amado, "uma mão esquerda o empalha/ em linguagem", ainda. Mas a obra, por seu turno, é "só prometida". Talvez as palavras não cheguem.
Ou então, pelo contrário, talvez o ofício de quem escreve seja acrescentar ainda mais febre às coisas febris, para que se tornem dizíveis: "Despertar sob a palma o objeto:/ incendiá-lo." E assim, em plena labareda, designar o mundo pelos seus limites luminosos."