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SOBRE O LIVRO

O músculo da escolha é o terceiro livro da poeta mineira Inês Campos, autora também, dos livros de poesia Geografia particular (2017) e Roca (2019).

No texto de orelha, a poeta Ana Estaregui, entre outras coisas diz:  

Dois pontos chamam atenção logo de início. O primeiro é o título. O músculo da escolha. É curiosa a evocação da palavra “escolha” atribuída a um músculo. Quem decide é o corpo, é sua parte irracional, suas fibras, sua consistência de matéria. Penso nas palavras do narrador de Clarice quando diz que não é um intelectual, mas que escreve com o corpo. Não por acaso seus poemas convoquem em diversos momentos imagens de incerteza: “finco os pés na dúvida/ não há no imenso/ as regras do livro crepuscular.” Ou ainda: “chove nos anseios/ em todas as leis” [...] “chove nas promessas/ nos projetos/ nas fundações mal construídas.” Para Campos (e Heisenberg) “diminuir uma incerteza aumenta outra.”

Nessa perspectiva em que o corpo do poema sabe por vias difusas – em contraponto a réguas e instrumentos precisos de medição – fica claro que o que se procura não está na ordem do controlável ou do previsível, mas daquilo que escapa. Talvez seja impossível dizer como se dá a construção de um bom poema, mas é quase certo que no processo haja algum instante de acordo com a irracionalidade e de encontro com “a parte que canta”.

O movimento em direção aos contra-significados e a favor dos gestos aparece em muitos momentos como no poema “Sobre uma palavra fundamental” em que a autora divaga sobre a palavra amendoeira: “mesmo que me esqueça dos símbolos/ nela há o canto, os balanços e as quedas/ no ponto em que sua guia se divide/ fizemos nossa casa” e mais adiante demonstra: “então, talvez, amendoeira não seja palavra que se esvazie porque não é o que significa.” A escolha do corpo não é estável, ele hesita como um bicho indomesticado. O canto se dá entre brechas.

Talvez um dos pontos mais instigantes de sua poética seja justamente esse espaço aberto feito de coisa arredia que a autora escava dentro dos sentidos, mas que são, contraditoriamente, escritos com muito rigor. O paradoxo precisão versus imprecisão descrito por Italo Calvino no capítulo “Exatidão” do livro Seis propostas para o próximo milênio preconizava que para se obter uma imagem contundente de vaguidão seria necessário saber escrever com muita precisão. Nesse ponto, a experiência biográfica da poeta, que também é advogada, pode ter sido decisiva em seu percurso como escritora no que concerne à lida com as palavras. Se a palavra é um dos grandes símbolos da lei, aquela que tem o poder de fundamentar e determinar uma ordem, também é ela que encontra novas leituras, interpretações e respiros entre cláusulas pétreas.

A segunda coisa que intriga são os textos escritos no rodapé. Espécies de fragmentos em prosa poética, essas narrativas breves fluem como um rio subterrâneo aos pés dos poemas e acrescentam uma nova camada à leitura, podendo ou não se relacionar diretamente com os poemas. Há lugares, há personagens, há pontos onde as duas escritas se tocam, mas eles se mantêm abertos como pedaços de um manuscrito disperso.

Os poemas de Inês Campos parecem cerzidos ponto a ponto, sol a sol. Aqui, eles parecem trabalhados e retrabalhados de modo a experienciar o excesso de radiação solar, a inundação, o vento que vai desgastando aos poucos a rocha e esculpindo formas. Há um trabalho diário e manual nessa feitura. É como num curtume em que o couro precisa ser descarnado, limpo e suficientemente curtido até que possa virar uma outra coisa – não significar mais o que significava antes.

 

SOBRE A AUTORA

INÊS CAMPOS nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1973. É poeta e advogada. Publicou os livros de poesia “Geografia particular” (2017) e “Roca” (2019), ambos pela Cas’a edições.

 

SERVIÇO

O músculo da escolha

Autora: Inês Campos

Número de páginas: 96

Ano: 2024

Formato: 12x18

ISBN: 978-65-85685-03-0